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18 de dez. de 2015

Resenha - Sob o céu de Cabul, Andrea Busfield




Título: Sob o céu de Cabul
Título Original: Born under a million shadows
Autora:  Andrea Busfield
Editora: Agir
Páginas: 320
Ano: 2014





Sinopse: O Talibã se retirou das ruas de Cabul, mas as sombras de seu regime permaneceram. Fawad, um menino afegão esperto, charmoso e observador, conheceu a tragédia como ninguém: seu pai e irmão foram mortos e sua irmã foi seqüestrada. Sempre otimista, Fawad espera por uma vida melhor e seu sonho se realiza quando sua mãe, Mariya, consegue um emprego como governanta de Georgie, uma carismática mulher ocidental, e seus dois amigos estrangeiros. Viver com o trio traz uma série de novidades, algumas assombrosas – dentre elas, a relação de Georgie com o poderoso guerrilheiro afegão Haji Khan, que faz com que esse homem terrível seja capaz de realizar surpreendentes atos de bondade. Mas a vida, especialmente em Cabul, sempre tem seus perigos e a próxima calamidade que Fawad deverá enfrentar ameaça destruir a única coisa que ele jamais pensava que poderia perder: o amor por seu país.




É inegável o quanto eu seja fã da cultura oriental, especialmente da que compreende toda a região do Afeganistão, da Índia e do Paquistão. E como leitora dos livros de Khaled Hosseini, que traz em suas histórias as marcas da guerra no Afeganistão, eu não poderia deixar de ler esse romance da jornalista Andrea Busfield.

Sob o céu de Cabul narra, sob o olhar de uma criança afegã de 11 anos, Fawad, as belezas, as desventuras, as perdas e a bondade, não só do povo afegão como também dos estrangeiros que se instalaram naquele país após a queda do Talibã. Por ter sido ambientado nesse país em um período um tanto turbulento, de insurgência dos combatentes do Talibã, imaginei que, como Khaled Hosseini em seus livros, as desgraças que acometeriam os personagens estariam presentes do início ao fim. Mas não foi exatamente assim. Andrea soube como transformar a vida do pequeno Fawad, tão triste e tão miserável num primeiro momento, em uma mensagem de amor e de esperança. O personagem Fawad é a própria personificação da esperança.

Fawad, mesmo sendo apenas um garotinho, já sofreu perdas terríveis. Primeiro, o pai, que se juntou à Aliança do Norte para lutar contra o Talibã. Um tempo mais tarde, os talibãs vieram à pequena casa onde Fawad morava com a mãe, Mariya, e com outros irmãos, e sequestrou a sua irmã, Mina. Anos mais tarde, jurando vingança e para recuperar a honra da família, o filho mais velho uniu-se às forças da Aliança do Norte. Infelizmente, ele não pôde voltar para casa.

Mariya e Fawad moravam em um pequeno cômodo na casa da irmã de Maryia. Não bastasse as guerras, ainda tinham que conviver sob a ameaça da fome, da miséria e dos surtos de cólera. Enquanto Mariya trabalhava como empregada doméstica, Fawad dirigia-se às ruas para roubar os transeuntes com seus amigos. Até que um dia eles são convidados a morar na casa da bem-sucedida tosadora de cabras da caxemira, Georgie, uma inglesa muito simpática que vai ganhando o amor de Fawad. A casa fica num dos bairros mais nobres de Cabul, o Wazir Akbar KhanLá, Mariya trabalharia como governanta. Na nova casa também moram outros dois estrangeiros, pessoas super gentis: o jornalista alcoólatra James, e a engenheira peituda e lésbica, May. Aos poucos, eles todos se tornam uma grande (e feliz) família. 

Georgie está envolvida com um poderoso e caridoso ex-guerrilheiro afegão, Haji Khalid Khan, e que provavelmente está chefiando um império de papoulas, enquanto May namora uma mulher peluda e James, uma mulher linda chamada Rachel, que não quer se casar com ele por ele ser alcoólatra, desastrado, e ter um sobrenome vergonhoso (Allcock). 

Fawad e a mãe estão vivendo uma vida de alto padrão se comparado ao restante das pessoas. Até guardas armados com AK47 eles têm, o que só reforça a questão da insegurança naquele país, obviamente. As ruas estão lotadas de estrangeiros, soldados norte-americanos e os próprios afegãos, além de crianças famintas e desesperadas. Mas isso não é tão reforçado assim no livro.

Enfim, ao fim da leitura, eu sinceramente fiquei imaginando que essa era uma história qualquer. Nem motivos havia visto para que a autora utilizasse o Afeganistão como cenário. A história poderia ter se passado em qualquer outro lugar! Mas não, eu comecei a pensar melhor e cheguei a conclusão de que não poderia haver um outro lugar senão o Afeganistão para ser o ambiente onde a história é contada. É necessário um olhar mais a fundo das personagens para entendermos que elas são marcadas por esse lugar. 

Se você estiver achando que esse é mais um livro dramático, como eu havia presumido, não se engane. Aqui, estamos falando de uma narrativa repleta de infortúnios, mas mesmo assim muito feliz. Recomendo a leitura aos amantes de uma boa história com dose de cultura afegã.


"Se o santo Corão diz que as meninas não devem ir à escola, que mortal poderia questionar a Palavra de Deus? [...]. No entanto, quando um talibã diz a um homem sem escolaridade que tais coisas estão escritas, como esse homem pode argumentar contra tamanho conhecimento e sabedoria, sobretudo se, fazendo isso, estará se postando contra o próprio Deus? Ele é obrigado a aceitar. É por isso que a melhor arma do povo [...], é a educação."


Andrea Busfield é uma jornalista britânica que viajou para o Afeganistão para cobrir a queda do Talibã em 2001 pelo jornal News of the World. Ela agora é escritora em tempo integral e vive na Áustria.










                               Minha avaliação (numa escala que vai de 1 até 5 estrelas):

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